Terapeutas da Alegria

Em 2007 a pedagoga Rosiléa Rosa, então docente da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFSC, propôs que o Projeto Terapeutas da Alegria, que coordenava no campus Pedra Branca da Unisul fosse adotado pela UFSC. O projeto foi registrado como ação de extensão do Departamento de Saúde Pública da UFSC e integrou, além da profa. Rosiléa e do professor coordenador da UFSC, o Dr. Thiago Demathé, médico pediatra que ajudou a criar o projeto, anteriormente, em Tubarão, SC e o estudante Gustavo Tanus, da Unisul. Com esta equipe o TA promoveu sua primeira seleção, abrindo vagas para 40 voluntários que passaram a se preparar para assumirem a identidade de Dr. Palhaço e passarem a visitar crianças internadas no Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis.

A filosofia adotada pelo TA na UFSC seguiu a do projeto-mãe da Unisul. Os voluntários seriam treinados para desenvolver seus personagens (Dr. Palhaço) e após terem este personagem desenvolvido, o que se simbolizava pelo ganho do nariz vermelho de palhaço, estariam aptos a proceder ás visitas, supervisionados pelos coordenadores tanto diretamente nas visitas quanto em reuniões semanais de avaliação.

Não foi considerado necessário que os voluntários fossem artistas ou palhaços profissionais. O objetivo não é uma performance de circo ou de teatro, mas uma visita onde a personagem busca oportunidades para trazer à pessoa internada momentos de alegria e conforto, às vezes apenas o benefício da presença, quebrando a solidão e a sensação de desvalidez, tão comuns nas situações de internação hospitalar. Mais importante que a formação profissional de artista é o desenvolvimento de uma sensibilidade, da solidariedade, da empatia e a entrega ao compromisso com a pessoa enferma, com seus familiares, com as pessoas que os amam. A base artística volta-se para estes fins, mas não é um fim em si.

Diante destes desafios o projeto TA se estruturou através de oficinas de formação que são obrigatórias para todos os voluntários e que ocorrem durante um semestre letivo antes do participante ir a campo. Após este período o participante ganha seu nariz e começa a participar de visitas em um grupo de “veteranos”, aqueles que já estão praticando as visitas, com a liderança de um Coordenador de Visita, um membro mais experimentado que é responsável pelos procedimentos de visita e atua como mediador, estando ele(a) mesmo(a) caracterizado como Dr(a) Palhaço(a). No inicio, os grupos eram poucos e coordenados pelos próprios coordenadores do projeto, mas à medida que este se expandiu mais coordenadores foram sendo formados e mais grupos passaram a existir.

Em 2010 o grupo deixou de visitar o Hospital Infantil, por questões de mudanças na orientação do hospital quanto aos tramites burocráticos e passou a visitar o Hospital universitário (HU) da UFSC. A mudança foi, de certa forma, benéfica, do ponto de vista logístico, já que não exigia mais deslocamento de longa distância e superava dificuldades como local para se vestir a caráter, que nem sempre era facilitado no HU.

Era comum que os TA fossem semi-caracterizados no trajeto de ônibus entre a UFSC, onde geralmente se encontravam após as aulas e o HI. Os tramites burocráticos no HU eram necessários, mas ficou mais fácil negociá-los pela proximidade, os estudantes tinham muito mais facilidade de acesso e os problemas se resoviam com mais agilidade. Com a mudança, o TA passou a receber também treinamento da própria equipe do HU sobre questões relativas a contaminação e procedimentos preventivos, entre outros. A esta altura o projeto já ganhava visibilidade tanto frente à comunidade acadêmica quanto na comunidade em geral e foi consolidando ritos de passagem, estruturas de funcionamento e conquistando espaços concretos e simbólicos dentro do contexto universitário.

Assim, o TA consolidou sua maneira de formação, agora integrada ao Nuhas, mas ainda com a mesma lógica inicial. É uma formação essencialmente prática, com base em oficinas de dinâmicas e em desenvolvimento do personagem Dr. Palhaço, que realiza visitas semanalmente, em grupos, atualmente em quatro enfermarias do HU, uma de pediatria e três de adultos (Clínica Médica, Clínica Cirúrgica e Ginecologia- Obstetrícia). O nariz continua sendo ganho após ao final do primeiro semestre e o Terapeuta da Alegria tem uma formatura ao final de dois semestres, quando ganha um
certificado.

Em 2018 o grupo começou a fazer visitas também no Hospital Florianópolis, onde o próprio hospital envia um carro para buscar os Terapeutas no CCS-UFSC, e fornece local para se arrumarem e também almoço após as visitas.